O FEMININO FERIDO E O ESQUECIMENTO DA ALMA
- 31 de out.
- 4 min de leitura
Atualizado: 31 de out.

“O corpo é o guardião silencioso da alma. Quando aprendemos a escutá-lo, o silêncio deixa de ser ausência e se torna presença viva.”
Desde muito cedo, muitas mulheres aprendem a silenciar. Silenciar o que sentem, o que percebem, o que sabem intuitivamente.
Aprendem que é mais seguro conter do que expressar, agradar do que contrariar, suportar do que pedir ajuda.
O silêncio feminino tem raízes profundas. Muitas vezes, não é apenas uma escolha, mas uma herança. Herdamos o silêncio das que vieram antes: das que não puderam falar, das que foram desacreditadas, das que aprenderam que o amor se conquistava através da obediência e da renúncia de si.
Mas o corpo, esse guardião silencioso da alma, não esquece. Ele fala nas entrelinhas, nas tensões que não se desfazem, nas dores que aparecem sem causa aparente, na exaustão que insiste mesmo quando tudo parece estar bem.
Esse silêncio se transforma em gestos contidos, em corpos retraídos, em sorrisos que disfarçam a dor. Ele se aloja nas fibras, na pele, na respiração.
Em cada respiração curta, em cada ombro enrijecido, há uma história que pede escuta.
É um silêncio aprendido pelo corpo, uma forma de se proteger quando falar significava risco, vergonha ou rejeição.
Mas esse mesmo corpo, que um dia precisou calar para sobreviver, é também o corpo que deseja florescer.
O silêncio que adoece pode se tornar o silêncio que cura, quando é habitado com presença.
O desafio está em reaprender a escutar, não para responder, mas para sentir.
Escutar a dor, o cansaço, a raiva, a ternura, todas as vozes internas que foram abafadas pelo tempo e pela cultura.
Quando uma mulher se permite esse espaço de escuta, ela começa a romper com a cadeia ancestral do silêncio.
E nessa ruptura suave, nasce algo novo: uma voz que não é grito, mas verdade.
Durante séculos, as mulheres foram afastadas de sua espiritualidade mais profunda.
A força intuitiva, a sabedoria do corpo e a ligação natural com o mistério da vida foram substituídas por dogmas, medos e padrões que separaram o feminino do sagrado.
O que antes era reverência pela natureza, pelo ciclo, pelo ventre e pelo sentir, foi aos poucos transformado em culpa, vergonha e repressão.
Assim nasceu o feminino ferido — aquele que se desconectou da própria alma.
A mulher que busca, mas não encontra; que sente, mas não compreende; que ora, mas não se reconhece naquilo que reza.
O feminino ferido é o eco de um sagrado esquecido, o resultado de gerações de silenciamento.
Mulheres que tiveram de esconder seus dons, reprimir seus desejos, abafar suas vozes.
O corpo feminino se tornou um campo de batalha: entre o instinto e a moral, o sentir e o dever, o prazer e a culpa.
Esse esquecimento da alma feminina se manifesta de muitas formas:
no cansaço constante;
na desconexão com o corpo;
na busca incessante por aprovação;
na dificuldade de confiar na própria intuição.
Mas, por trás desse vazio, há uma força que insiste em renascer.
Uma força antiga, selvagem e amorosa, que espera ser lembrada.
A cura começa quando a mulher deixa de tentar se ajustar e passa a se escutar.
Quando ela desce do ideal de perfeição e retorna à terra, ao corpo, ao simples ato de existir.
Quando ela respira e se permite sentir o que por tanto tempo evitou.
É nesse momento que o sagrado começa a pulsar novamente, como experiência viva de presença, amor e pertencimento.
Na Psicoterapia Somática, compreendemos o corpo como o primeiro território da alma, o lugar onde a vida se encarna, se expressa e busca integração.
O corpo é o solo onde as experiências se tornam forma: cada emoção vivida, cada relação, cada lembrança molda nossa estrutura.
Stanley Keleman dizia que o corpo é uma organização viva de experiências, ele não apenas guarda memórias, mas continua a formá-las, recriando-se em cada gesto, em cada respiração, em cada encontro.
Escutar o corpo é também escutar a história da nossa própria existência.
No cotidiano, essa escuta pode parecer simples, mas exige delicadeza.
É fechar os olhos e perceber o que vibra, onde há tensão, onde há vazio.
É deixar que a respiração toque os lugares esquecidos, que o silêncio revele o que está escondido sob as camadas de controle e pressa.
O corpo é o templo onde a vida se manifesta e onde o sagrado feminino pode ser reencontrado.
Escutar o corpo é permitir que a alma respire através da carne.
É transformar o silêncio em espaço fértil, onde o sentir pode florescer sem medo.
🌼Trago um exercício somático de presença
Sente-se confortavelmente e leve uma das mãos ao coração e outra ao ventre.
Respire suavemente, permitindo que o ar preencha as duas regiões.
Observe como o corpo responde ao simples gesto de ser tocado com atenção.
Depois de algumas respirações, pergunte em silêncio:
“O que em mim precisa ser escutado hoje?”
Não busque respostas.
Apenas permaneça.
Deixe que o corpo fale na sua própria linguagem, um calor, uma lembrança, um suspiro.
É nesse diálogo silencioso que a reconexão acontece.
Há um silêncio que aprisiona e outro que liberta.
Quando o corpo é escutado, o silêncio deixa de ser ausência e se torna presença viva.
O feminino amadurece nesse espaço de quietude que acolhe, sem julgar, o que pulsa em seu interior.
É o primeiro passo para curar o silêncio ancestral.
Que este texto seja um convite ao retorno — a si mesma, ao corpo, à alma.
Se fez sentido para você, compartilhe com outras mulheres que talvez precisem relembrar o sagrado que pulsa dentro de si. ♡
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Espalhar consciência e afeto é sempre um bom caminho. ♡
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Maria Cecília Fagundes Brasil
-Psicóloga Clinica | CRP 08/37354
-Psicoterapeuta de Mulheres
-Especialista em Psicoterapia Somática | Saúde Integral
-Especialista em Trauma e Estresse Pós-traumático
-Atendimentos Online
Para me conhecer melhor acesse: https://www.ceciliabrasil.com/psicologademulheres
“O corpo guarda memórias que só podem ser libertadas quando encontramos um espaço de confiança e presença."

Belíssima reflexão, bem verdadeiro.
Apenas maravilhoso , perfeito. Como psicóloga, mas com meus 70 anos e 45 de profissão me senti numa sala de escuta onde as dores da alma saem como gotas de lágrimas lavando meu rosto cansado .
Belíssimo texto! Quanta sensibilidade....
Achei o texto fantástico!!! Muito real, muito verdadeiro. Incentiva a nos libertarmos e ter a certeza do nosso valor, que há tanto tempo é reprimido, abafado, sufocado. Gratidão !
Nunca li um texto tão coerente, ao mesmo tempo tão humano. reflete sensibilidade em cada detalhe, realmente tocante