CUIDANDO DAS FERIDAS DA SUA INFÂNCIA

18 de out. de 2024
4 min de leitura

Atualizado: 3 de mar.

“Em todo adulto espreita uma criança – uma criança eterna, algo que está sempre vindo a ser, que nunca está completo, e que solicita, atenção e educação incessantes. Essa é a parte da personalidade humana que quer desenvolver-se e tornar-se completa” - Carl Jung

Nossa infância continua presente na vida adulta: a forma como nos relacionamos com os outros (e com nós mesmas) é moldada desde que éramos crianças.

Ignorar essas influências é tentar mascarar onde verdadeiramente dói. Não há como simplesmente tentar varrer para debaixo do tapete, a ferida vai continuar pulsando até que visualizamos para, a partir daí, começar o processo de cicatrização.

É importante que a gente olhe para ela, acolha, dê voz e cuidado. Ao validarmos os sentimentos da nossa criança, podemos então iniciar um processo de ressignificação dos acontecimentos vividos.

Neste artigo trago a importância desse movimento, seus benefícios e a oportunidade de realizar esse cuidado.

Cuidar da Criança Interior Ferida envolve um processo delicado de autocompaixão, escuta ativa e reconexão com as emoções e necessidades não atendidas do passado. A criança interior representa partes nossas que foram machucadas, ignoradas ou negligenciadas, especialmente durante a infância. Cuidar dessas feridas é essencial para a cura emocional e para uma vida mais equilibrada e plena.

Aqui estão algumas práticas e passos que podem ajudar nesse processo:

Reconheça a dor da criança interior: O primeiro passo é reconhecer a existência dessa parte ferida dentro de você. Isso significa validar os sentimentos que surgem, sem julgá-los ou minimizá-los. Muitas vezes, a dor da criança interior se manifesta em emoções intensas como tristeza, raiva, medo ou solidão. Aceitar essas emoções como legítimas é crucial para começar a cura.
Pratique a autocompaixão: Acolher a criança interior requer autocompaixão. Tente se tratar com a mesma ternura e cuidado que você daria a uma criança machucada. Fale consigo mesma de forma gentil, com frases como: "Eu vejo sua dor", "Eu estou aqui para você" ou "Você é amado". Isso ajuda a criar um ambiente seguro para que a cura possa ocorrer.
Dialogue com a criança interior: Uma técnica útil é imaginar uma conversa com a sua criança interior. Feche os olhos, visualize sua versão mais jovem e pergunte o que ela precisa ou como ela está se sentindo. Ouça as respostas sem julgamentos. Esse tipo de diálogo pode trazer à tona necessidades ou desejos que foram negligenciados no passado e que ainda afetam você.
Revisite memórias antigas com carinho: Revisitar memórias dolorosas da infância pode ser um ato poderoso de cura. Ao fazer isso, tente se colocar no papel de uma adulta que pode oferecer o apoio que você precisava na época. Esse processo de "reparentalização" (oferecer a si mesma o cuidado que faltou) ajuda a transformar essas memórias. Mas, se isso for muito doloroso para você, evite essas lembranças e procure ajuda de um profissional para te acompanhar nessas lembranças, de uma forma cuidadosa.
Expresse as emoções de forma saudável: Às vezes, emoções profundas precisam ser expressas. Pode ser útil escrever cartas para a sua criança interior, pintar ou desenhar, ou mesmo usar a arte como um meio de expressão. Essas formas de expressão criativa podem ser terapêuticas e ajudam a liberar sentimentos reprimidos.
Estabeleça limites saudáveis: Parte do cuidado com a criança interior é aprender a estabelecer limites saudáveis nas suas relações atuais. Isso significa dizer “não” quando necessário, evitar pessoas ou situações que causam dor ou reforçam padrões de desrespeito. Criar um ambiente seguro para si mesma é essencial para que a criança interior se sinta protegida e amada.
Pratique o autocuidado constante: O cuidado com a criança interior é contínuo. Práticas de autocuidado diário, como meditação, exercícios físicos, alimentação saudável, descanso e atividades prazerosas, são formas de demonstrar carinho e atenção a si mesma. Envolver-se em atividades que lhe tragam alegria e leveza nutre sua criança interior.
Busque apoio psicoterapêutico: Para algumas pessoas, esse processo pode ser difícil de enfrentar sozinha. Abordagens centradas em traumas são formas eficazes de receber apoio. Uma psicoterapeuta pode ajudar a guiar você nesse processo de cura profunda.
Perdão e libertação: Parte do processo de cura pode envolver perdão — seja perdoar os outros ou a si mesma pelas feridas do passado. No entanto, o perdão não significa justificar comportamentos abusivos, mas sim libertar-se do peso da mágoa e permitir-se seguir em frente.
Cultive a alegria e o lúdico: A criança interior também está conectada ao lado lúdico e alegre de cada pessoa. Proporcione a si mesma momentos de diversão, leveza e brincadeiras. Atividades como desenhar, dançar, cantar ou simplesmente explorar hobbies que você gostava quando criança podem ajudar a resgatar a alegria interior.

Ao cuidar da sua criança interior, você estará investindo em sua própria saúde emocional e bem-estar, possibilitando uma relação mais profunda consigo mesma.

Fico feliz que tenha chegado até aqui!

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